1. "Vira" é uma música politizada. Como você a situa agora que Lula foi eleito presidente? Eu não sei se é uma música politizada, é? Talvez um registro/sintese (não tão coerente assim) de tudo que está rolando no mundo. Sobre o novo presidente, eu não sei o que esperar, não tem sido fácil globalmente e não será fácil nos próximos anos, eu sou bem pessimista sobre tudo que nós humanos, temos feito com o mundo e com as outras pessoas. Eu sinto uma nuvem escura sobre nós. Mas tenho certeza que meu próximo vai falar mais sobre esperança e alivio. Por isso decidi lançar essa música para fechar esse ciclo tenebroso.

  1. Letra e música são suas? Qual surgiu primeiro? Como você compõe? Sim, letra e música são minhas. Neste caso as duas surgiram juntas, as ideias das trocas de palavras já estavam na minha cabeça, então quando comecei os acordes já tinha a intensão de fazer essa "brincadeira”. Eu não tenho um método claro, mas qualquer coisa que eu ouço das pessoas e acho interessante eu anoto ou crio trechos na hora. No processo desta canção especificamente eu fiz anotações de muitas palavras além das que foram para a música com a troca do substantivo masculino pelo feminino que ganham significados diferentes.

  2. Você já lançou um EP e dois singles. Como a música tem fluido na sua vida? Quais são os planos para 2023? Eu sempre fui músico, desde criança eu gosto de criar. Aprendi a ler as primeiras partituras com um livro velho de professor que tinha na minha casa, porque minha tia era professora quando havia o ensino de música nas escolas. Sempre foi muito natural ouvir música o dia todo, da hora que acordo, trabalhando, no metro, até a hora que vou dormir. Música flui naturalmente pra mim, nos últimos anos eu tenho prestado mais atenção nas letras. No momento estou preparando um projeto, que está sendo produzido em Belo Horizonte em parceria com uma amiga de lá, com composições dela e minha que vai ser lançado no primeiro semestre. Mas estou buscando um produtor para meu album que quero lançar no ano que vem também.

  3. Quem grava essas músicas com você? Usa estúdio profi ou é algo mais caseiro? Depende, quando eu resolvi me aventurar como músico solo, eu fiz uma parceria com um amigo da minha cidade, que é um violonista incrível e tinha acabado de criar seu estúdio por lá. Então eu mostrei pra eles as músicas que eu tinha e ele produziu o primeiro EP.

No caso do single "Tô a fim”: Eu e a Paula Oliveira nos tornamos grandes amigos durante a pandemia, eu sempre curti o trabalho dela, então eu mostrei pra ela a música e a gente decidiu produzir. Nós gravamos a distancia, eu aqui no meu apartamento (SP), ela na Argentina e o produtor em BH. O produtor, Felipe Fantoni, tinha produzido o EP da Paula que foi lançado durando a pandemia (LINK DO EP) , eu gostei muito da produção e decidimos que ele iria produzir. Felipe é um querido, tem todo aquele jeito mineiro de ser que eu amo e sinto saudade, então ele se tornou um amigo, que agora está produzindo o projeto que lanço no primeiro semestre.

No caso do novo single "VIRA”, eu estou preparando algumas músicas para lançar no proximo ano e conheci através da Paula o Kezo Nogueira, um músico de primeira que também produz. Inicialmente eu chamei o Kezo para me ajudar com a gravação de alguns violões e fluiu tão bem que pedi ele para produzir o single. Ele já trabalha no estúdio onde gravamos, que fica aqui bem próximo de onde eu moro, no Sumaré, SP. O nome do estúdio é Submarino Fantástico. Essa é a primeira produção realmente mais profissional, no estúdio, com a participação de vários músicos de primeira.

Violões, baixo e bateria, Kezo Nogueira Piano Suette, **Marcelo Galter (LINK BIO / LINK REFERENCIA)** Percussão, **Marcio Forte** Metais e arranjo de metais, **Will Bone -** Grammy Latino sopros, ANAVITORIA, também gravou os metais do ultimo disco da Liniker ( LINK REFERENCIA)

Produção, **Kezo Nogueira** (Além de produção toca bateria e percussão nas bandas Vanguart e Vitrola Sintética) Mixagem, Otavio Carvalho (Submarino Fantástico, 3x Latin Grammy nominee, banda Vitrola Sintética) Masterização, **Felipe Tichauer** (Red Traxx Mastering, 12x Latin Grammy winner / 109 Grammy/Latin Grammy nominated projects.), um dos caras que tem um trabalho enorme com músicos independentes, que também fez a master do ultimo disco da Tulipa Ruiz e do Dani Black.

Gravado no estúdio Submarino Fantástico


  1. Quem são os seus outros parceiros de trabalho? Paula Oliveira é a principal. Mas minha amiga Sandra Tamara (Produzindo atualmente o projeto que vai ser lançado no inicio do ano). E claro Kezo Nogueira, que tem sido um super parceiro.

  2. Quando começou a fazer música? Não sei, sou músico desde criança, quando entrei na banda de música da minha cidade (Brumadinho) eu sempre gostei de escrever e sempre escrevi pensando em música, eu tinha várias partituras que eu escrevia, mas achava que era tudo feio e não mostrava pra ninguem e se perdeu. Mas eu comecei mesmo a compor algo mais tangível em 2018 letra e música, como projeto solo.

  3. E fala um pouco sobre o seu trabalho "oficial" : D Eu sempre fui muito maluco por tecnologia desde criança. Quando eu tocava trompete na banda de música da minha cidade eu resolvi ajudar a divulgar tudo, a gente só tinha Orkut na epoca e então fiz o primeiro site da minha vida em 2008 para a banda e tomei gosto por isso.

Adoro deixar tudo mais bonito e prático para as pessoas. Então desde lá eu trabalho como designer e desenvolvedor de sites e produtos digitais. Sempre me dediquei muito pra aprender e então resolvi fazer faculdade de design gráfico (que inclusive tive que pedir minha avó para pegar um empréstimo para eu pagar as primeiras mensalidades enquanto não conseguia um emprego fixo), mas sempre trabalhei com design digital.

Eu venho de uma familia simples do interior, sempre grana. Acho que sempre fui talentoso, mas o que me fez despontar como designer foi a disciplina, eu passava madrugadas tentando entender como tudo funciona. Eu era viciado em livros de desenvolvimento. Então a parada deu certo e eu já trabalhei pra empresas muito grandes, Petrobras, Goldman Sachs, Google, Globo, e mais um monte. Em uma das minhas viagens de trabalho eu fiquei que nem uma criança, porque entrei em uma loja da BestBuy em nova iorque e levei um susto por ver um "quiosque” da Amazon com painel interativo e tudo mais que eu havia desenhado e nem sabia que já estava nas lojas. Foi emocionante. — Não é que escrevendo isso agora eu vejo o quanto eu tenho contradições — Alimentando todo um sistema capitalista podre da Amazon. hahaha

Eu decidi que não queria mais a vida de trabalhar em agencia, todo o estresse diário, as disputas de ego, os milhões que ganham enquanto você faz o trabalho duro e sem contar o reconhecimento baixo, as crises de ansiedade e tudo mais. Hoje eu trabalho em uma empresa Holandesa, um produto que é mais a minha cara, mais tranquilo uma ferramenta para que programadores consigam programar de qualquer lugar só pelo navegador, é tipo um Google Docs, mas pra programar, online, sem precisar instalar nada.

Desde o dia que eu decidi dar um tempo na música para trabalhar eu fiz um contrato comigo mesmo que assim que eu conseguisse me estabilizar financeiramente iria voltar a fazer música, e aí estou eu recomeçando.

  1. Onde você nasceu? Onde mora? Está com quantos anos? Tem filhos? Bichos? Plantas? rs Eu nasci em Brumadinho, MG, toda minha familia mora lá. Atualmente eu moro em São Paulo e divido apartamento com minha cachorrinha Cacau, muito amorosa e odeia ficar longe dos humanos, ela gosta de gente, experimenta deixar ela sozinha e ela vai se vingar. Tenho 32 anos, já gostei mais de plantas, mas ultimamente não estou conseguindo me dedicar como antes, então tô só tentando fazer meu kombucha em paz. Gosto de cozinhar, mas também não tenho priorizado esse lado pra poder ter tempo para a música.

  2. Quais são as suas referências musicais? Olha, isso é sempre muito dificil falar sobre. Eu tenho minhas fases e sempre revisito tudo. Eu tenho uma admiração muito grande por Chico Buarque, Nando Reis, Mauricio Pereira, Pelico, Affonsinho enquanto compositores, como usam as palavras e tudo mais. Mas nos ultimos anos eu tenho me dedicado muito a ouvir músicos atuais e independentes. Daí vem uma leva enorme. As sonoridades e ritmos gostosos do Castello Branco, Mãeana, Phill Veras os agudos e vibratos que eu amo da Tulipa Ruiz, Dani Black, Filipe Catto. Os arranjos do Tim Bernardes. A voz da Liniker, Marisa Monte.. As sonoridades mais modernas da Letrux, Duda Beat, Marina Sena, Mc Tha. As letras e sotaque do Barro. Tem as bandas tipo DINGO, Maglore, O terno... Nossa, é uma tortura responder isso. Tudo é influencia, cada dia eu acordo com vontade de fazer um estilo, um ritmo, uma letra diferente. Provavelmente tô esquecendo de umas 1000 outras artistas. Eu escrevi uma frase hoje mais cedo que é: "Eu não tenho medo da morte. Eu tenho medo de todas as canções que não vou poder ouvir”. Ainda não encontrei o melhor forma de escrever essa frase, mas o sentimento é esse.